Tânia Maria Augusto Pereira
Doutoranda/Proling UFPB
Esta tese tematiza
a espetacularização do corpo feminino na mídia. O objeto de nossa pesquisa é a
imagem do corpo feminino e seus sentidos passíveis de análise nas capas da Revista
Veja que abordam o culto ao corpo.
Diante disso, buscamos esclarecer qual a imagem de corpo feminino que essa
Revista espetacularizou ao longo dos seus anos de publicação. A partir daí,
outro questionamento norteia nossa investigação: que corpos foram excluídos
pela Revista? Para responder esta
problematização, hipotetizamos que, em se tratando do corpo enquanto
acontecimento discursivo espetacularizado, a Revista impõe um corpo magro,
“sarado”, bonito e saudável à população brasileira, alicerçado por um discurso
científico, ao mesmo tempo em que interdita outros, tais como o corpo gordo, o
corpo magro anoréxico etc. Tendo como pressuposto a compreensão
do corpo como uma construção histórica e cultural, sobre a qual se articulam
diferentes discursos e saberes, objetivamos analisar o discurso da Revista Veja sobre o corpo feminino enquanto
acontecimento discursivo espetacularizado. Também buscamos refletir sobre como
o discurso da Revista é significado, legitimado, reconhecido e mantido através
das técnicas disciplinares usadas para adestrar os corpos, dentro do que
Foucault denomina Biopolítica. Como embasamento teórico-analítico, utilizamos os
estudos referentes à terceira época da Análise de Discurso (AD), erigida por
Michel Pêcheux, das formulações discursivas de Jean-Jacques Courtine e,
principalmente, das contribuições de Foucault, em sua analítica do poder, à
teoria do discurso. Também nos apoiamos nas ideias de pesquisadores do campo
dos Estudos Culturais. Para a AD, a mídia configura-se como um dispositivo
disciplinador, na medida em que cria identidades e parte do princípio de que
tais identidades são efeitos do discurso, já que é no interior das práticas
discursivas que elas emergem. Cuidar de si na contemporaneidade significa
cuidar do corpo, sentir-se bem a partir de regras de conduta e de princípios
impostos como verdades e prescrições construídas pela mídia através da
exposição incessante das imagens de corpos belos. Constatamos nas capas da Revista
Veja a atuação de dispositivos
disciplinares que ditam formas e hábitos de vida enquadrados no saber/poder. Os
corpos apresentados pelo discurso da Revista ordenam um dizer que vai além da
estética da beleza, visto que tal discurso produz, estabiliza e faz circular um
feixe de sentidos, materializando dizeres sustentados pela memória discursiva,
apagando ou deixando implícitos outros.
Palavras-chave: Corpo. Mídia. Espetacularização.
Biopolítica. Biopoder.